Obras
Arte e tecnologia juntas para ressignificar objetos descartados
Exposição "É onde tocamos que nos sentimos tocados", do artista visual André Barbachan, é um convite à reflexão sobre o padrão de consumo da humanidade
Foto: Italo Santos - Especial DP - Pesquisador, doutorando da UFRGS, propõe ao público uma experiência artística contemporânea, na qual ele é desafiado a interagir com as obras
Uma série de obras eletrônicas criadas para ressignificar objetos descartados é a base da exposição É onde tocamos que nos sentimos tocados. A proposta artística do pesquisador André Barbachan, doutorando em Artes pela UFRGS, convida o visitante a refletir sobre o padrão de consumo da humanidade, o desperdício e o potencial de transformação que tem cada material desprezado. A visitação pode ser feita até 15 de janeiro nas salas Antônio Caringi e Inah Costa, da Secretaria de Cultura (Secult), no casarão 2, da praça Coronel Pedro Osório.
A construção deste projeto começou antes da pandemia, porém teve de ser suspensa durante o isolamento social, por isso só agora chega ao público. Barbachan explica que o objetivo era que as propostas artísticas fossem tocadas, visto que todas as obras expostas são interativas. O que não poderia ocorrer durante a vigência dos protocolos sanitários de combate ao contágio pelo coronavírus.
Composta por seis obras que misturam materiais reutilizáveis, como madeira e plástico encontrados em diferentes formatos pelo artista, durante suas buscas por locais de descarte, a suportes tecnológicos, que criam a interface com o visitante. A ideia de André Barbachan foi trazer Pelotas uma experiência contemporânea de arte e tecnologia.
Simbiose
Em sua pesquisa, o artista tem se aprofundado em criar esculturas a partir de objetos descartados que foram reimaginados por meio da aplicação da tecnologia dos microcontroladores e sensores. "A simbiose entre objetos descartados, os microcontroladores, software e o mais importante, o gesto humano de tocar, sugere um diálogo visual contemporâneo, revelando e inspirando maneiras de desafiar as fronteiras da arte", fala o artista no vídeo de apresentação da exposição.
Ao refletir sobre como a tecnologia se impõe na sociedade, o artista comenta que mesmo objetos tecnológicos obsoletos têm seu lugar na vida das pessoas, mesmo que seja somente nas lembranças. "Quando tu pegas uma TV de tubo hoje, tu tens uma outra relação que não a contemporânea, o objeto em si traz uma carga de memórias. Os objetos antigos tem o potencial de evocar memórias", diz.
Uma TV de tubo é o foco principal de uma dessas esculturas, o Antagônico. Na obra, em forma humana, a cabeça é uma televisão antiga, nela ficam se repetindo imagens que remetem ao casal Adão e Eva. Quanto o visitante se põe na frente do aparelho um sensor capta a imagem humana e a reproduz. "Eu tenho Adão e Eva e tu és o resultado disso", analisa o artista.
Essa narrativa foi elaborada por ele para a construção deste objeto. "Mas não quer dizer que as pessoas vão ter a mesma experiência que eu", comentou Barbachan.
Rejeitos e resíduos
Ao mergulhar neste processo de ressignificação, o artista se deparou com conceitos como descarte, resíduos e rejeitos. Sendo o primeiro tudo o que pode ser reaproveitado e o segundo o que é descartado nos lixões ou de forma irregular, poluindo o meio ambiente. "A gente consome muito e descarta muito, é um problema nosso. É uma coisa a se olhar cada vez mais".
Um dos parceiros neste trabalho foi a Ecosul, que faz a coleta de muitos resíduos que ficam nas rodovias. Barbachan teve acesso a esse material, que é separado e encaminhado às cooperativas de recicladores. "Eu acessei esse lugar, de coleta, então todos esses resíduos vieram de lá", conta.
Uma das esculturas intitulada Ramon Llull é a que mais apresenta esses materiais. Nela ele utiliza paralamas de caminhão, cones e lanternas de veículos. A obra, quando acionado um botão, emite uma sequência sonora que deve ser repetida pelo visitante. Nesse momento entra outra questão levantada pelo artista, o movimento do corpo. "Estamos ficando limitados à ponta dos dedos", fala.
Em busca de parcerias para levar adiante suas obras, o artista propõe uma arte que pode ter continuidade, além do espaço expositivo. Para Barbachan seria interessante que as obras fossem adquiridas por entidades ou instituições que possam extrair delas o seu potencial educativo. "Aqui na galeria elas (as esculturas) são pensamento, mas no mundo vão ser experiências."
Serviço
O quê: É onde tocamos que nos sentimos tocados, do artista André Barbachan
Quando: até o dia 15 de janeiro de 2024, das 9h às 14h
Onde: sede da Secult, casarão 2, da praça Coronel Pedro Osório
Entrada franca
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário